domingo, 11 de novembro de 2007

Cai a produtividade do brasileiro

Segunda-Feira, 03 de Setembro de 2007

Brasil ocupa apenas o 65.º lugar no ranking da OIT que mede o valor produzido por trabalhadores em 124 países
Jamil Chade, GENEBRA

A produtividade do brasileiro caiu nos últimos 25 anos e o País ocupa apenas o 65º lugar no ranking que mede o valor produzido por trabalhador em 124 economias. Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimam que um trabalhador do País em 1980 produzia em valor agregado para a economia US$ 15,1 mil por ano. Em 2005, esse valor caiu para US$ 14,7 mil e a distância em relação aos países mais competitivos do mundo se ampliou. O Brasil é superado por Argentina, Chile, Bósnia e Irã e passou a ter taxas equivalentes às de Uganda.

A situação brasileira ocorre ao mesmo tempo em que o mundo presenciou uma aceleração na produtividade do trabalho, principalmente na China, que pode em breve ultrapassar a produtividade de um brasileiro. Os maiores índices de produtividade estão nos Estados Unidos e Europa. As informações fazem parte de um amplo raio X que a OIT publica hoje da situação do trabalho no mundo, com mais de 1,2 mil páginas.

De acordo com o levantamento, a produtividade de um trabalhador brasileiro caiu em 0,1% por ano no período analisado. Quanto à produtividade por hora, o aumento foi mínimo, de 0,2%, passando de US$ 7,63 em 1980 para US$ 7,99 por hora em 2005. ''''O resultado do levantamento não é nada bom para o Brasil'''' , afirmou José Salazar-Xirinachs, diretor do Departamento de Empregos da OIT.

Em 25 anos, as oscilações na produtividade acompanharam os ciclos na economia nacional. Entre 1980 e 1990, a queda na produtividade foi profunda, passando de US$ 15,1 mil para US$ 12,6 mil durante a década perdida. A década de 90 teve uma certa recuperação da taxa, que chegou a US$ 15,1 mil em 2001, repetindo o desempenho de 1980. Mas uma queda constante foi verificada entre 2003 e 2005, reduzindo a produtividade para US$ 14,7 mil.

O pior desempenho do País está no setor de serviços, com queda de 3,4% por ano entre 1980 e 2005. O varejo teve queda de produtividade de mais de 50%. Há 25 anos, um trabalhador nesse setor produzia para a economia US$ 3,9 mil por ano. Em 2004, passou a produzir apenas US$ 1,7 mil. No setor de transporte e comunicação, a queda foi de US$ 18 mil em 1980 para US$ 14 mil em 2005.

No setor industrial, a produtividade também caiu nos 25 anos analisados, de US$ 7,1 mil por trabalhador por ano em 1980, para apenas US$ 5,6 mil em 2005. Diante do desempenho industrial, a produtividade do trabalhador brasileiro está cada vez mais distante da americana. Em 1980, um trabalhador no País produzia 19% do valor agregado de um americano. Em 2005, caiu para 5%. No setor de hotéis, comércio e restaurantes, a produtividade do trabalhador brasileiro é de apenas 3% de um americano.

Nesse mesmo período, um trabalhador chinês passou de uma taxa de 5% da produtividade de um americano para 12%.

O Brasil ainda tem uma produtividade inferior às seis principais economias da América Latina. No Chile, o valor agregado à economia por trabalhador é de US$ 30 mil por ano. Na Venezuela, de US$ 26,1 mil, seguida pelos uruguaios com US$ 25,4 mil, US$ 24 mil na Argentina, US$ 19 mil no México e US$ 14,9 mil na Colômbia. Na América Latina, a maior produtividade é de Porto Rico, com US$ 46,8 mil por trabalhador. As taxas de produtividade no Brasil são equivalentes à de Uganda e são superadas por Irã, Síria, Bósnia, Bulgária e Rússia.

Em termos de produtividade por hora, o Brasil tem apenas um quarto da média francesa ou americana e metade da chilena. Apesar da baixa produtividade, um brasileiro trabalha mais horas que os europeus. Dados de 1999 apontam que um brasileiro trabalhava 1,68 mil horas por ano. Em 1990, a jornada anual era maior e chegava a 1,79 mil horas no País.

O Brasil, porém, está distante das mais de 2,2 mil horas por ano trabalhadas pelos asiáticos. Na prática, um asiático trabalha 60 dias (de oito horas) a mais que um brasileiro. Argentinos, paraguaios e americanos também têm jornadas mais longas que os brasileiros.

Mas a solução para aumentar a competitividade não seria aumentar o número de horas trabalhadas. Os especialistas da OIT estimam que o Brasil precisa investir urgentemente em treinamento de sua mão-de-obra se quiser reverter essa tendência de estagnação. ''''Quanto menor for a qualidade da mão-de-obra, menor será a produtividade. O Brasil precisa criar trabalhadores mais produtivos e só fará isso com investimentos'''', afirmou Theo Sparreboom, economista da OIT.

Outro fator que contribui para a queda de produtividade é a taxa de desemprego. Entre 1980 e 2004, a taxa passou de 4,3% para 8,9%. Há 25 anos o número de desemprego no País era de 2 milhões de pessoas. Em 2004, de 8 milhões.